Enquanto não tem a cara bem coberta de espuma
foge de olhar-se a direito no espelho, hoje vive arrependido
de ter decidido pintar o cabelo, está como prisioneiro dos
seus próprios artifícios, porque, mais do que o desagrado que
Lhe causa a sua imagem, o que ele nào suporta é a ideia de
que, deixando de pintar-se, os cabelos brancos que sabe ter
lhe apareceriam de repente à luz, de uma só vez, como uma
irrupção brutal, em lugar do lento avanço natural que por
vaidade tola resolveu um dia interromper. São as pequenas
misérias do espírito, que o corpo tem de pagar, ele que está
sem culpas.