(…) o sistema me horrorizou, passei a detestar os delíquios felizes, o abandono, este corpo em demasia acariciado, em demasia festejado; acabei opondo-me a mim mesmo, caí no orgulho e no sadismo; em outros termos, a generosidade. Esta, como a avareza ou o racismo, não é senão um bálsamo secretado para curar nossas chagas íntimas e que acaba nos envenenando: a fim de escapar ao desamparo da criatura, eu me preparava a mais irremediável solidão burguesa: a do criador. Cumpre não confundir esta guinada de direção com uma verdadeira revolta: a gente se rebela contra um carrasco e eu só tinha benfeitores. Durante muito tempo, fui cúmplice deles. De resto, eram eles que me haviam batizado de dom da Providência: limitei-me a empregar para outros fins os meios de que dispunha.